Vanessa Caramelo Rosolino
3 min readFeb 28, 2024

PARA CONTINUAR O AMOR…

Quando amamos algo, queremos ser preenchides com esse algo... reivindicamos, lutamos dia a dia arduamente... e se tivermos sorte, o desejo é realizado.
Mas desejo nunca é só desejo, assim como vida não é só vida e a sorte tb pode trazer consigo a des-graça.
No exato momento em que o que amamos se torna grande em nós, ocupando assim todos os espaços, os olhos deixam de se surpreender... com o tempo, não brilham mais.
A mão só sua e a barriga só gela quando há tempo de espera para o encontro com o nosso objeto de amor, e se este preenche todas as lacunas existentes, o que sobra?
Se não há espaço, como que o desejo se faz?
...
Me formei em Psicologia apaixonada pela clínica e tb pela psicanálise. O que mais queria era trabalhar com isso o dia todo. Viver disso, me realizar dessa forma. E me realizei!
Essa paixão me conduziu... ainda me conduz (quem me conhece sabe que, se não há paixão, não fico), mas não sou a mesma de 16 anos atrás. Só sabemos a diferença entre o 22 e 39 na prática. Não adianta nenhuma teoria ou conselho que não seja a ppria experiência. Temos mesmo é que ver com os pprios olhos e viver na ppria pele.
Então, apesar de ainda estar aqui, a paixão é outra.
Já cheguei onde me via e vivi muito mais do que imaginava. Perdi a conta de quantas pessoas já atendi e do quanto aprendi com cada pessoa q chegou. Acho q aprendi muito mais do que ensinei, acolhi na mesma proporção que fui acolhida, torci e senti, vi elaborar e tb mto elaborei ... Amo escutar, mesmo qdo acho que escutei o suficiente e já não tenho energia alguma, algo surge dentro de mim e me leva a perguntar e saber mais... isso me energiza na mesma proporção que me drena...
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Ultimamente, me sinto mais drenada do que energizada.
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Não ao acaso, a agenda ficou cheia e eu nem percebi... 9, 10, 11, 12 horas por dia atendendo, 4 dias na semana... é muito!
Me distraí pelo caminho, vivendo intensamente, e não percebi. A coluna lembrou. Dores constantes por ficar horas demais sentada... demorou e a coluna curou, mas e o desejo que murchou? Esse não voltou... o brilho do olhar no final do dia era de cansaço. Quase estado febril. Cheguei no meu limite mtas vezes.
E mesmo murcho, o desejo pela clínica e psicanálise nunca desapareceu, pelo contrário, o maior medo era de estragar o que cresceu de mais lindo dentro de mim... cresceu tanto que não cabia mais em um consultório. O espaço de uma sala não comporta mais todo o meu desejo... e quase não percebi isso acontecer (ou fingi não ver)
E para o amor continuar, o espaço se faz necessário mais uma vez... para estar aqui e produzir, formatar ideias, construir algo que carregue tudo o que já me contém...
É paradoxal, mas para fazer mais clínica e psicanálise, preciso fazer menos clínica e psicanálise no consultório. Expandir!
E dessa forma, volto a sentir o frio na barriga, a mão suar e o olho brilhar... sinto até o coração nas costas, de tão forte que bate. Volta a bater!
O caminho é este... não há mais como negar, é preciso transformar.
Não significa que isso seja fácil... não é! Dói ter que falar não para algo que amo tanto! Mas para continuar amando, precisamos de um espaço maior entre nos!
E início hoje uma nova etapa nessa pequena construção que é minha vida, em um imenso universo, com uma paixão que quase não cabe em mim. ❤️

Vanessa Caramelo Rosolino
Vanessa Caramelo Rosolino

Written by Vanessa Caramelo Rosolino

• Psicóloga • Psicanálise • Caminhante • Montanha • Livre • Feminista • Insurgente • Antifa • Em desconstrução • Pela autonomia • Travessias @shangiexperiencias

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